Por Renate Krieger
Querem saber como os alemães fazem para criar os filhos? A revista norte-americana Time listou algumas atitudes, observadas por uma mãe dos EUA que mora em Berlim. Ainda não passei por todas as experiências que ela listou na matéria – minhas filhas tem 3 anos e dez meses, respectivamente – e também deixei de viver algumas coisas “típicas” da maternidade da Alemanha porque passei os dois últimos anos de licença maternidade e acompanhando o marido, que foi trabalhar no exterior (Egito e EUA – em cada país passamos um ano).
Na verdade, também não sei bem o que da minha educação é alemão e o que não é. Cresci em São Paulo, neta de alemães, numa família onde muitas tradições do país europeu são mantidas há gerações, mas já se diluíram no cotidiano brasileiro. Há alguns anos, uma amiga me perguntou se eu ia querer tomar o café com leite na casa dela “à brasileira” (com leite quente) ou “do jeito alemão” (café quente com leite frio). Sempre tomei do jeito alemão e nunca tinha me dado conta de que isso era uma atitude típica de lá.
De qualquer maneira, vou voltar a viver na Alemanha e gosto muito da maneira como os alemães encaram o estímulo à independência das crianças e a confiança que eles depositam nos filhos. Por outro lado, como cresci em São Paulo, confesso que fico bastante apreensiva em pensar nas minhas filhas andando sozinhas pela cidade quando estiverem em idade escolar…
De igual para igual
O que aprendi na Alemanha, por exemplo, foi nunca falar com as minhas meninas de cima para baixo (apesar de esta não necessariamente ser uma lição pedagógica exclusivamente alemã). O que se pratica no país é se agachar para ficar com o rosto na altura dos olhos da criança, para que a interlocução seja mais justa e de igual para igual. Não existe muito essa coisa de “falar com língua de bebê” (apesar de que, quando fiz isso com a mais velha quando ela era recém-nascida, meu marido polonês criado na Alemanha achou bonitinho).
O estímulo à independência também passa por não ligar muito para os tombos que a criançada leva. O lema parece ser: “levanta e sacode a poeira”. Uma máxima que avalio como positiva para que as crianças não fiquem muito concentradas em chorar e pedir colo quando a queda realmente não é grave. Mas também já tive que intervir para que familiares pegassem minha filha mais velha no colo e a consolassem porque o tombo foi, sim, sério.
Difícil encontrar um meio-termo. O que consigo fazer atualmente é não sair correndo assustada quando ouço um choro ou uma pancada e, sim, observar primeiro para depois ver como administrar a situação.
Independência e festa na escola
É impossível resumir o que é ser mãe na Alemanha em apenas alguns tópicos, mas o artigo da Time destaca alguns pontos-chave que podem ajudar a ter uma ideia sobre a educação infantil à moda alemã (leia a íntegra do texto, em inglês, aqui):
1. Não forçar o aprendizado da leitura desde muito cedo (creche serve para a criança brincar, não ser ‘forçada’ a ler);
2. Encorajar brincadeiras (SUPERVISIONADAS, claro!!) com fogo – para alguma lição de casa ou experimento da escola, por exemplo);
3. Deixar as crianças (em idade escolar) irem sozinhas a quase todo lado para estimular a independência – segundo o texto, pais alemães temem menos algum sequestro que acidentes de trânsito;
4. Celebrar o primeiro dia de aula – quando a criança entra na escola, é um rito de passagem comemorado, entre outras coisas, com um cone de papelão cheio de guloseimas, a famosa Zuckertüte (eu ganhei aos 7 anos de idade, quando entrei na primeira série de um colégio suíço no Brasil, e me lembro até hoje);
5. Sair com as crianças para brincar todos os dias, mesmo com tempo ruim. Alemães dizem: “não há mau tempo, apenas roupas inadequadas”. E é bom para a saúde dos pequenos!
Pressão social e a magia do parquinho
Uma observação pessoal sobre o ponto 5: quando eu morava no Egito, mesmo não tendo a mesma segurança e oportunidades de lazer para crianças como na Alemanha, tentava dar um jeito de levar a mais velha às compras no canguru, mas também não me pressionava se não conseguisse sair diariamente – até porque as condições em Damietta, cidade onde eu morava, eram muito mais precárias e completamente diferentes da Alemanha, onde o sonho da guia rebaixada para passear com o carrinho de bebê pela rua é uma realidade.
No Egito, eu fiquei com os braços torneados e as costas acabadas de tanto passear com a Olivia no canguru – simplesmente porque era impossível colocá-la no carrinho, já que eu tinha que levantá-lo e abaixá-lo com a destreza e a agilidade de uma artista circense para não morrermos atropeladas. Usava o carrinho de bebê como carrinho de compras.
A “necessidade” de sair todos os dias na Alemanha, aliás, é um ponto que considero peculiar – reiterando que se trata de uma impressão pessoal (ninguém precisa concordar). Me parece que há um certo estranhamento entre as mães (e avós, sogras etc.) alemãs quando não se sai com os filhos pequenos todos os dias para tomar ar. Há como que uma pressão social para que isso – e outras coisas, como alguns dos inúmeros cursos disponíveis para mamães e bebês – aconteça. Suponho que seja, entre outros motivos, porque o clima na Alemanha realmente não é lá muito convidativo e muitos pais e pediatras se preocupam em manter o nível de Vitamina D das crianças saudável.
O ponto mais positivo que vejo na educação dos filhos na Alemanha é que esta também é tornada mais fácil nas cidades que conheço por lá, e também pelos planos públicos de saúde, especialmente no pós-parto. Tem muita, mas muita coisa pra criança – o leque de opções é imenso.
A minha preferida é o parquinho. Qualquer parquinho tem brinquedos seguros para crianças pequenas, chão emborrachado, areia ou palha no solo para que as crianças não se machuquem. Uma realidade que era inexistente no Egito. Lá, só brinquedos eletrônicos em mini-shoppings e um parque municipal que tinha um gramado bom, mas que só abria depois das 17h e não batia com a rotina que eu tinha estipulado para a minha família.
Os parquinhos também não eram lá muito amigos das crianças na cidade onde morei nos EUA, onde existiam muitos trepa-trepas sem barras de segurança para crianças, ou com manutenção deficiente. Considerei esse fato ainda mais problemático por a minha mais velha estar começando a querer subir nos brinquedos e eu ter dificuldades para acompanhá-la, já que estava grávida da segunda filha quando morei lá. Na Alemanha, acho que fica fácil os pais relaxarem um pouco mais quando estão no parquinho observando os filhos, como descrito no artigo.
