“No primeiro dia sem trabalho, minha filha ficou feliz porque voltou da creche e eu estava em casa. Eu sempre voltava muito tarde e, às vezes, ela já estava até dormindo. Mas agora estou parada desde janeiro e até minha filhinha de 5 anos fica me perguntando quando eu vou voltar para o trabalho”, me contou Gabriela, 29, na fila da Caixa Econômica Federal da Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro.

Gabriela é solteira e mora com a filha e a mãe. Antes de engrossar as estatísticas de desemprego, trabalhava como recepcionista de um laboratório de análises clínicas na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade. “Levava mais de uma hora e meia até o trabalho, mas pelo menos estava trabalhando, né. Não sei como vai ser se não achar nada até o fim do mês”, diz, preocupada. O pai da menina,”que passa mais tempo no WhatsApp que no emprego”, não contribui regularmente com a pensão.

Infelizmente Gabriela não está sozinha. No Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), metade dos pais com crianças pequenas está desempregada. E, como sabemos, a situação é ainda mais difícil para as mães. “A mulher era também a primeira pessoa responsável pela criança de menos de quatro anos de idade em 83,8% dos 10,3 milhões de menores nessa faixa etária, de acordo com o IBGE”, explica reportagem do jornal Valor.

Mas não pensem que o mal do desemprego é problema apenas dos países pobres ou em desenvolvimento. A mesma situação pode ser enfrentada por pais de países ricos, como França, Bélgica e até Estados Unidos.

O que fazer para contar?

A psicóloga brasileira radicada em Paris Tamara Landa defende a transparência na hora de contar para os pequenos sobre a perda do emprego aos filhos, mas é muito importante ter tato, explicou ao blog Mães no Mundo.

“A criança tem necessidade de idealizar os pais, projetando uma certa onipotência. Dessa forma, as crianças podem se apoiar nos pais e se sentirem protegidos, seguros. Mas como lidar com a situação em que o pai ou a mãe foram, de uma certa forma, castrados? Acho que toda a questão está aí. Como a criança pode se sentir protegida e segura com um pai ou uma mãe fragilizado? O adulto precisaria mostrar que ele tem a capacidade de não ser destruído por essa situação e que pode superá-la.”

Em entrevista ao jornal O Público, o  psicólogo português João Lopes, professor no Departamento de Psicologia da Universidade do Minho, partilha o conselho de Tamara Landa.   “O que constato na minha prática clínica com miúdos é que, de forma geral, estas coisas só são traumatizantes se a pessoa que as comunica o fizer com ar dramático e traumatizante, dando a ideia de que se está perante uma catástrofe terrível.”

Faça da literatura e dos desenhos animados seus aliados

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Para muitos pais e mães, é difícil olhar nos olhos das crianças e explicar a perda do trabalho. Nesses casos, um desenho animado ou um livro podem ajudar.

Nos EUA, por exemplo, no auge da crise econômica americana, os famosos bonecos da Rua Sésamo participaram de um episódio no qual explicavam sobre os males do desemprego aos pequenos.

Na França, onde o desemprego é assunto constante, há uma lista imensa de livros que tratam do assunto.

Recomendado para crianças a partir de 9 anos, L’envol du hérisson narra a história de um menino que tem que enfrentar o desemprego do pai operário. Para os menores, Papa à domicile.

Em Portugal, em 2012, o autor  João Miguel Tavares escreveu um livro sobre a crise com belíssimas ilustrações de Nuno Saraiva.

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