Nesse começo de ano, muitas famílias planejam mudar de país com os filhos em busca de novas oportunidades de trabalho ou para viverem algo novo. Esse passo tão importante é cercado de expectativas. Viver o cotidiano de outra cultura com a família pode ser maravilhoso, mas vai exigir muita paciência e é preciso estar preparada para as frustrações e obstáculos no caminho. A jornalista Nathalia Fernandes divide conosco a sua experiência de trocar Londres por Genebra com dois filhos.

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Colaboração de Nathalia Fernandes para o Mães no Mundo

As crianças se adaptam. Este foi um dos vários conselhos que ouvi quando decidimos mudar de país com nossos filhos. E sabia que devia ter desconfiado deste conselho. Fechado os ouvidos. Mas não o fiz.

De uma maneira geral, mãe sempre desconfia de conselhos: eles vêm as centenas, nos momentos mais inapropriados e por experts duvidosos. Mas deste conselho em especial deveria haver desconfiado porque, sem perceber, acabei acreditando nele e me deixando guiar durante o processo de mudar de Londres para Genebra com meu marido, uma filha de três anos e um bebê recém-nascido.

No turbilhão de providências a tomar, acabei não percebendo o quanto mudar de país estava sendo doloroso para minha filha Sofia, hoje com três anos e meio. Sempre muito descolada e social, acreditei sim no conselho de que Sofia iria se adaptar e criei uma enorme ilusão: seria fácil, tranquilo, sem dor e quase instantâneo. Pois bem, não foi nada disso. Já estamos em Genebra há quase seis meses e ainda semana passada ela me falou sobre como gostava de brincar com suas amigas na sua escolinha em Londres, como sentia falta deste lugar, entre tantos outros de Londres. Ela sente falta de Londres e fala sobre Londres frequentemente. Eu sinto falta de Londres quase todos os dias e, por mais que tente desmontar a armadilha de ficar comparando um lugar com o outro, me pego pensando de maneira constante no que tinha lá que não tenho aqui.

E o mais valioso que tinha lá que ainda não tenho aqui é conhecimento: lá já tinha tido um bebê e sabia como o sistema de saúde funcionava, aqui ainda estou descobrindo. Lá, sabia todas as opções de lazer para crianças, aqui ainda estou batendo cabeças. Lá tinha uma network de mães conhecidas, aqui não.

O que quero dizer é que mudar de país com crianças não é nada fácil e se preparar é essencial. Talvez as comparações sejam inevitáveis no início, mas uma boa pesquisa prévia deveria ajudar a diminuir esta lista do “lá eu sabia isso” e “aqui não tenho ideia”. E é preciso tempo, muito tempo. Nada será instantâneo e acho que isso deveria ter pesado muito, muito mais na nossa decisão. Não será sem dor ou sem perdas. Haverá ganhos mas também não acredito que serão instantâneos. Ao menos no nosso caso, não foi.

No nosso caso especificamente, apesar das dores, o que ganhamos de mais valioso com esta experiência foi entender onde está nossa casa. E, para nós, casa é Londres e hoje sabemos disso. Antes, acredito que eu e meu marido não sabíamos o que, para a minha filha Sofia, parecia já ser tão óbvio.

 

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