Por Cíntia Cardoso
Antes da chegada do pequeno Maxime, a mãe eslovaca Tatiana Timkova viveu vários papéis: estudante, dançarina de flamenco, personal stylist, consultora de gestão de negócios de grandes empresas e anfitriã das melhores festas de Paris. Com a maternidade, ela usou todas essas experiências como matéria-prima para a criação de uma web série de humor.
“Hoje, tenho dois empregos. Sou atriz e diretora, que é o que me alimenta espiritualmente, mas também tenho um emprego, digamos assim, ‘alimentar’. Não é algo que eu adore, mas acaba servindo de inspiração”, diz Tatiana que continua a trabalhar como consultora de negócios.
Os roteiros da série surgiram da necessidade de digerir os questionamentos que vieram com a vida de mãe. “Meu objetivo é o de dividir as experiências das mães, suas angústias e suas ambiguidades cotidianas. Também quis mostrar a pressão que a sociedade nos impõe: o consumo em excesso, gastos e a pressão para nos comportarmos como supermães ou superpais. Mas, ao mesmo tempo, essa sociedade não nos dá condições adequadas para isso”, lamenta.
Cara feia no escritório
O primeiro episódio da websérie SuperMama foi inspirado no seu próprio retorno ao trabalho após a licença maternidade. A recepção dos colegas, conta, não foi das mais calorosas. Tatiana enfrentou muita cara feia e desconfiança. Mas decidiu usar esses percalços do mundo da firma como combustível para seus roteiros.
Na ficção, a personagem-mãe usa todo o tipo de artifício para conseguir sair do escritório e pegar o filho na creche. Na vida real, Tatiana passou pelos mesmos problemas. “Para poder sair às 18h, eu começo a trabalhar às 7h da manhã. Ou seja, antes de todo mundo. O problema é que na vida de executiva parisiense sair antes das 20h é muito mal visto”, conta.
Como várias mães nessa situação (nós já mostramos aqui o quanto o mundo do trabalho pode ser cruel com as mães) Tatiana tem que trabalhar com mais afinco que os colegas.
“Eu não paro para tomar cafezinho, não almoço por muito tempo. Sou muito focada e até muito mais produtiva. O resultado é que ganho a confiança dos clientes, mas há um clima de desconfiança em relação ao meu trabalho e também ciúmes dos meus colegas porque eu saio mais cedo. Faço bem o meu trabalho, mas sei que seria impossível subir na carreira onde estou. Mas, na verdade, isso não me importa agora. Minha prioridade é passar mais tempo com meu filho.”
“Ser mãe me dá uma enorme satisfação pessoal, mas é um trabalho muito difícil”
Embora a volta ao trabalho tenta sido algo dolorosa por causa da separação do filho, Tatiana confessa que a retomada da atividade fora de casa trouxe uma “sensação de libertação”.
“Ser mãe é um trabalho intenso e desgastante. E faço questão de enfatizar que é, sim, um trabalho. Passei muitas noites em claro e até meses inteiros dormindo muito pouco ou quase nada. Mas, no dia seguinte, tinha que estar de pé e pronta para começar tudo de novo”.
Além de material para novas aventuras artísticas, Tatiana afirma que a maternidade trouxe outras mudanças. “Sou a mesma pessoa, mas ser mãe me tornou mais generosa, mais capaz de doar. A uma certa altura da minha vida, senti que não queria me importar apenas com o meu umbigo. Mas essa é a minha verdade, a minha vida”, insiste Tatiana, que detesta a pressão da sociedade para que as mulheres sejam mães.
Eslovaca, morando na França e já tendo passado pela Itália e pela Espanha, Tatiana pretende retratar na sua série as dificuldades comuns a vidas de tantas mães. Em busca de um público maior- o que seria bem-vindo para facilitar a captação de recursos para a produção da série-, em breve, todos os episódios terão legendas em inglês.
Agora é só esperar pelas cenas dos próximos capítulos.
Veja aqui embaixo o primeiro episódio de SuperMama.
Mães no Mundo 