Por Renate Krieger

Falta pouquíssimo para o Natal que comemoramos seguindo a tradição cristã e o estresse com os preparativos se instalou aqui em casa – mas menos pelo fato de querermos organizar muitos presentes para muitas pessoas e mais por causa do inverno alemão, sua escuridão, seu frio e as doenças infantis que vêm com ele e prendem as filhas e os filhos dentro dos lares.

Para evitar que as crianças fiquem aborrecidas e entediadas, considero ideal a época que antecede o Natal aqui na Alemanha, o Advento. É um tempo de reflexão, de contemplação e de harmonia. E, tanto dentro como fora de casa, dá para ocupar a criançada. Veja abaixo algumas das nossas atividades preferidas:

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  1. Calendário de Advento

É uma tradição que existe no Cristianismo desde o século 20 e foi criado na Alemanha por protestantes – originalmente, era uma forma de medir o tempo até o Natal, do dia 1o até o dia 24, a véspera de Natal quando se comemora o nascimento de Jesus Cristo.

Quando eu era criança, minhas raízes alemãs eram mantidas abrindo uma janelinha por dia de calendários de papel com figuras coloridas – uma tradição que tento manter até hoje com as minhas filhas.

Como várias tradições natalinas que acabaram se industrializando, o calendário de Advento também se tornou um item lucrativo para vários tipos de empresas ao longo dos anos. No supermercado, não é possível encontrar calendários com figuras de papel – apenas grandes caixas com os números de 1 a 24 e surpresas de chocolate. Há muitas fábricas de brinquedos que também produzem calendários com brinquedos. Ganhamos um desses da Playmobil, por exemplo – apesar de eu não ser fã porque acredito que estimula o consumismo.

Prefiro fazer um calendário com as crianças e colocar as surpresinhas dentro de saquinhos, por exemplo (uma noz num dia, uma fruta no seguinte… não existem limites para a imaginação).

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Árvore de Natal do mercadinho de Dortmund, autodenominada a mais alta do mundo (45m)
  1. Mercadinhos de Natal

Durante um mês antes do Natal, cidades e paróquias em toda a Alemanha se tornam palco de feirinhas de Natal, onde lojas e fazendas locais vendem os mais variados produtos. Além da comida – que vai de batata assada com creme a truta defumada, das típicas salsichas e linguiças alemãs às amêndoas caramelizadas e maçãs do amor – , os mercadinhos também são conhecidos como ponto de encontro de amigos e famílias depois do trabalho para espantar o frio com um copo de vinho quente.

Para crianças pequenas, existem os pequenos presépios e estandes de brinquedos (carrinhos, carrosséis e, em Dortmund, até um pequeno estande com pôneis), mas o mercadinho de Natal não é necessariamente o melhor programa para crianças de dois a quatro anos, como é o caso das minhas filhas, já que elas se entediam rapidamente.

Já tive experiências ruins e boas – a ruim foi ter que lutar contra o frio, a fome e o sono das crianças, e a boa foi ter me organizado bem o suficiente para encarar a grande aglomeração do mercado de Natal com duas crianças bem alimentadas, vestidas de forma correta para combater o frio e que dormiram no carrinho duplo de bebê.

  1. Fazer decorações e biscoitos de Natal

Não tem nada melhor do que ficar em casa numa fria e escura tarde do inverno europeu, assando biscoitos e enfeitando a casa com guirlandas e decorações de janelas feitas em casa, por exemplo.

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  1. São Nicolau

É uma tradição católica europeia. A figura do Papai Noel e o fato de ele trazer presentes foi inspirada em São Nicolau, que no século 4o ajudava a pobres e crianças na atual Turquia. Seu dia é 6 de dezembro e existem várias maneiras de lembrar esse santo.

Na minha família, costumávamos limpar os sapatos na véspera do dia de São Nicolau e deixá-los na porta de casa (se os sapatos não estivessem limpos, São Nicolau não deixava presentes). Crianças boas ganhavam meias de tecido repletas de nozes, alguns chocolates e frutas ou até um brinquedo (mas os brinquedos costumamos ganhar no Natal). Crianças mal-comportadas ganhavam um galho (mas nunca conheci ninguém que tenha recebido um galho).

Esse ano, mantive a tradição com as minhas filhas. Elas receberam um livrinho da autora sueca Astrid Lindgren (1907-2002), Tomte e a raposa (tradução livre do alemão Tomte und der Fuchs), sobre como dividir os bens que se tem com os outros.

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Lanterna confeccionada para dia de São Martinho (11/11)
  1. São Martinho

A tradição, também católica, homenageia Martinho de Tours, um militar (depois tornado bispo) que, segundo uma das lendas, ajudou a um homem que havia sido roubado e que passava frio por não ter mais roupas. Martinho partiu seu manto vermelho com sua espada e deu um pedaço da vestimenta ao mendigo.

Na Alemanha, o dia de São Martinho, 11 de novembro, é comemorado com procissões noturnas durante as quais as crianças carregam lanternas que, normalmente, elas mesmas fabricaram com papel machê ou cartolina e papel colorido. A lanterninha, hoje em dia, é a pilha para evitar acidentes ou incêndios.

Algumas cidades realizam uma fogueira de São Martinho, que é representado por um ator vestido como o soldado e montado em seu cavalo. Também já participei de procissões com as crianças cujo final foi uma peça curta e cantada sobre os feitos do santo. Apesar de ainda não ser exatamente uma tradição natalina, para mim já se encaixa nelas porque estimula as crianças a conhecerem histórias de solidariedade e altruísmo.

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