A cena se repete. A criança de cara feia, mastigando com má vontade enquanto a comida esfria. A mãe, desesperada com o filho que não gosta de comer, ameaça deixar a criança de castigo, sem desenho, fala sobre as crianças que passam fome pelo mundo, grita, se descabela e… nada! O prato continua lá do jeito que ela colocou. Para algumas mães e filhos, esse calvário na hora das refeições é diário. Tem que criança que só come batata, criança que só quer leite com chocolate, criança que vive apenas à base de Nutella e pipoca, criança que acha que comer uma fruta é um suplício.

Quando eu era criança, lá nos anos 80, a moda no Brasil era dar remédios para abrirem o apetite. O mais famoso entre eles, que prometia dar uma “fome de leão”, tinha até álcool na fórmula.

Hoje, felizmente, esse tempo passou e muitos pediatras defendem que se respeite o apetite dos pequenos. Ou seja, não devemos forçar as crianças a comer. Fácil de falar, mas, quando chega a hora do almoço e seu filho faz cara de nojo para tudo, as técnicas de “maternidade positiva” acabam indo por água abaixo.

Saibam que esse desespero é global. Uma mãe australiana  morando na França descreveu aqui como as escolas francesas conseguem fazer com que as crianças comam de tudo. Ela disse que a filha dele, que não achava graça em legume nenhum, passou a comer até brócolis ao mudar de país.

Eis um resumo dos “segredos” que ela descobriu:

1- Prepare uma mesa bonita: prato, talheres, guardanapo. Claro que ninguém vai usar um serviço de prata para a molecada, mas o visual caprichado ajuda a tornar a refeição um momento de prazer e, não, um castigo. (Aqui, eu acrescento  que comer em boa companhia é essencial. Comer com os amiguinhos é muito mais divertido. Em casa, se possível, fazer as refeições em família, à moda antiga -todo mundo sentado, sem tablet ou telefones- pode ser uma experiência legal.)

2- Não faça drama: as refeições nas escolas francesas são divididas em entrada, prato principal e sobremesa. Se a criança não comer a entrada, ninguém vai ficar insistindo até ela comer. Passa-se para o prato seguinte e pronto. Mas as crianças são incentivadas a experimentarem o prato antes de recusá-lo. (Segundo o meu filho, há coleguinhas que não comem de tudo não, mas provam pelo menos um pouquinho.)

3-Deixe a criançada comer sozinha: que elas usem os talheres, aprendam a usar o guardanapo e a cortarem sua comida. Além disso, lembra a mãe australiana, por favor, mães, não fiquem comentando cada garfada que a criança dá ou deixa de dar.

Em entrevista ao jornal Telegraph, a psiquiatra infantil Gillian Harris, do Birmingham Children’s Hospital, foi enfática ao afirmar que os pais estavam fazendo tudo errado com as crianças que são, digamos, “chatas para comer”. Para a médica, ninguém gosta de comer sob vigilância. Por isso, ela até aconselha aos pais deixarem a criança à vontade e sozinhas para comer.

(OBS.: Atenção, mães, comer sozinho só vale para os maiores, ok? Menores de três anos precisam de vigilância para evitar o risco de engasgar.)

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