Por Renate Krieger
Num texto recente, a Cíntia reuniu várias dicas preciosas sobre como sobreviver a um inverno rigoroso, já que a onda de frio surpreendeu a Europa com força e de forma implacável.
Infelizmente, em casa, os vírus da gripe foram tinhosos e conseguiram se tornar aquelas visitas indesejadas que não vão embora. As crianças pegaram um resfriado leve aqui na Alemanha e faltaram na creche durante apenas alguns dias antes de estarem saudáveis de novo – mas o contágio, tanto na escolinha quanto em casa, foi inevitável e fez sucumbir meu marido, a mim e às crianças novamente.
Resultado: faz um mês que estamos tentando nos livrar da tosse, do catarro – e, sinceramente, também do inverno (para mim, acabou a magia das paisagens brancas de neve, que aqui na minha cidade são bastante incomuns).
Seguem algumas dicas de como passar pelo périplo da gripe com crianças.
- Não tentar impor refeições
Da minha experiência, o corpo de uma criança gripada e com febre já está tão ocupado em combater os agentes que o atacam que não tem forças para realizar outras atividades como comer – daí a inapetência tão frequente. Por mais aflição que me dê, tento não forçar quando as minhas filhas não querem comer nada – e ficar mais tranquila sabendo que cada doença tem um ciclo e um tempo para passar.
Segundo a nutricionista Dagmar von Cramm, autora de vários livros sobre alimentação para crianças na Alemanha, “comer não é tão importante na fase da febre: debilita desnecessariamente o corpo (…). Especialmente os alimentos ricos em gordura e proteínas não são recomendáveis. No máximo, é melhor alimentar a criança com frutas, um caldo com macarrão ou purês de frutas”, escreve a autora no livro Kochen für Kinder (Cozinhar para Crianças).
Assim, evito cozinhar alimentos que sejam dificilmente digeríveis – até por causa dessa concentração do corpo em expulsar a doença e a pouca força disponível para a digestão.
Mas também já houve momentos em que fiquei feliz que as meninas estavam comendo alguma coisa – como biscoitos de chocolate que fizemos juntas, ou um hambúrguer feito em casa, com batatinhas “fritas” no forno. Obviamente, esse tipo de alimento não constitui a maioria das refeições, mas é uma forma de eu atender às vontades delas e fazer com que elas se sintam melhores e estimuladas a comer.
- Líquidos, líquidos, líquidos
Parece óbvio, mas é realmente crucial fazer com que a criança tome muito líquido especialmente quando está doente. E não importa se é uma gripe, tosse ou moléstia gastrointestinal – o líquido ajuda a criança a expulsar os agentes da doença do corpo. Melhor exemplo: minha filha mais nova, que durante esse inverno ficou quatro dias com febre alta, mas tomou muito líquido, o que contribuiu para estimular a tosse e fazer com que ela melhorasse.
Minha filha mais velha nunca foi de beber muito – é igual à mãe… mas insisto e tento sempre dar água, um suco fresco (ou de caixinha diluído), um chá e alguma comida que tenha uma alta quantidade de água, como canja de galinha, fricassé de frango, canapés de pão integral (mais úmido), sopa e legumes como pepinos e tomates cereja, além de frutas – que tento sempre dispor no prato e na mesa de forma apetitosa.
Outra dica é deixar sempre uma mamadeirinha ou garrafinha com água ou líquido perto da criança – a garrafinha fechada é segura porque a criança não derruba e pode tomar deitada. Segundo Dagmar von Cramm, o chá pode ser feito de manhã e colocado numa garrafa térmica (o mesmo vale para uma sopa ou uma papinha, por exemplo).
Ela escreve que o chá de camomila pode ajudar a combater resfriados. Uma mistura de camomila e sálvia alivia dores de garganta, e chá de tomilho fluidifica o catarro. O nosso pediatra recomenda chá preto e de funcho (um saquinho de cada um num litro de água, deixando o chá preto na água por 20 minutos) contra diarreia e vômitos, dado de colher a cada meia hora.
O problema é administrar essas bebidas quando as crianças – especialmente pequenas, como as minhas – não gostam. Vale a tentativa de acrescentar uma colherinha de glucose em vez de açúcar para adoçar o chá, ou misturar com suco de frutas. Mas o que dá certo em casa, mesmo, é água quando as crianças estão com sede. E, por mais aflição que isso dê, os alemães acreditam que a criança realmente come ou bebe o que precisa, como explicamos aqui (obviamente, não paramos de oferecer nem comida nem bebida para os pimpolhos).
- Canja de galinha e caldo de legumes
Essas receitas são ótimas porque dão energia às crianças, além de serem saudáveis e, principalmente, fonte de líquido. E o melhor: basta fazer um panelão e congelar uma parte para sempre ter uma refeição pronta em casos de emergências.
Para a canja, descasque 4 cenouras e as coloque inteiras dentro de uma panela (não corte ou pique para a canja não ficar adocicada demais). Acrescente uma cebola cortada em quartos, duas folhas de louro, um galho de tomilho (opcional) e 5 grãos de pimenta-da-jamaica (pimenta dioica). Coloque 4 ou cinco coxas/sobrecoxas de frango, ou um frango inteiro, na panela e cubra tudo com água (não ponha água demais, encha apenas até o limite superior da comida).
Leve ao fogo médio para aquecer o caldo, mas não deixe ferver. Quando a água “quiser” começar a borbulhar, abaixe o fogo e deixe a canja reduzindo por cerca de uma hora. Estará pronto quando as cenouras estiverem macias (fure com um garfo para testar).
Desligue o fogo, passe o caldo por uma peneira para uma outra panela. Reserve a parte que quer congelar, deixe esfriar e depois coloque no congelador.
Desfie o frango, pique a carne e coloque no caldo (você também pode usar a carne para assar o frango no forno ou para fazer outra receita, como fricassé). Corte as cenouras em quartos e depois pique, acrescente também ao caldo. Coloque um pouquinho de macarrão e cozinhe com a canja até amolecer. Coloque sal e, se sua filha ou filho gostar, um pouco de salsinha.
Uma opção mais rápida para quem não tem muito tempo é colocar os ingredientes numa panela de pressão e deixar no fogo baixo durante meia hora depois que a água começa a ferver. Mas eu prefiro usar o Plano A.
Para o caldo de legumes, pique uma cebola e um dente grande de alho e refogue com duas colheres de sopa de azeite. Corte em cubos ou pedaços: a base de uma peça de alho-poró, duas cenouras grandes, um aipo-rábano (usado muito aqui na Alemanha, mas opcional) e acrescente ao refogado. Cobrir com dois litros de água e deixar cozinhar um pouco. Abaixar o fogo e retirar a espuma que se forma com uma escumadeira. Quando não houver mais espuma, acrescentar duas folhas de louro, dez grãos de pimenta-da-jamaica, um galho de tomilho e dois cravos. Deixar cozinhar em fogo baixo por cerca de uma hora. O caldo não pode ferver.
Passar o caldo por uma peneira. Se for servir, deixar ferver numa panela e temperar com sal. É possível colocar macarrão ou arroz, por exemplo. Para congelar, você pode colocar o caldo em fôrmas de gelo para fazer porções pequenas quando precisar.

- Remedinhos naturais
Embora as receitinhas aqui não substituam o acompanhamento médico, é possível aplicar esses métodos para dar um pouco mais de conforto para a criança que está doente.
Para aliviar a febre, por exemplo, costumamos fazer compressas com toalhas molhadas na panturrilha da criança.
É dica de avó: basta molhar uma toalha pequena, torcer e envolver a perninha da criança por uma hora (dá para colocar uma meia por cima para a compressa não sair) pode ajudar a aliviar o desconforto. Quando a criança está acordada, tento colocar uma toalhinha úmida na testa – tem o efeito carinho de mãe.
A compressa também pode ser feita com iogurte natural ou queijo cottage, que pode ser colocado dentro de uma meia para ficar em contato com a sola do pé da criança enquanto ela dorme.
Para dores de ouvido, nosso pediatra recomendou compressas com cebola picada por causa das propriedades antissépticas e antiinchaço do legume. Coloquei um pouco de cebola picada numa meia de seda e fiquei com minha filha mais nova no colo (ela já estava bem caidinha por causa da febre). Fiquei com o colo cheirando a cebola, mas deu uma aliviada.
Outra dica é colocar cebola picada num saquinho de organza ou numa meia de seda e pendurar no quarto da criança doente para ajudar a melhorar a respiração e a tosse. Testado e aprovado por essa Mãe no Mundo – eu também não gosto do cheiro de cebola, mas luto com todas as armas, não é mesmo?
Na comida, “todos os temperos e ervas que liberam as vias respiratórias e que estimulam a circulação sanguínea nas mucosas fazem bem: gengibre, chili, mostarda, raiz forte, cebolinha e hortelã. Sopas e chás quentes estimulam a expectoração das secreções”, revela von Cramm.
Para nariz entupido, uma boa dica, especialmente para bebês, é aplicar algumas gotinhas de soro fisiológico no nariz da criança. Não deixa resquícios no corpo e alivia a respiração. É uma boa dica também para levar em viagens de avião.
Em caso de diarreia e vômitos, aqui na Alemanha os médicos não costumam sugerir alterações na dieta. A recomendação é que, exatamente, não se mude a alimentação para que o corpo expulse os vírus naturalmente (de preferência pelas fezes).
Uma receitinha em caso de constipação é dar suco de ameixa para as crianças, especialmente bebês. Aconteceu com a minha filha mais nova quando ela tinha cerca de oito meses. Mas, como suco de ameixa é um produto bem alemão e eu estava no Marrocos, fiz um purê de pera uma vez e um purê de pera com aveia da outra. Foi tiro e queda.