Por Cíntia Cardoso-Delautre e Renate Krieger
A nossa seguidora no Facebook Esperança Pereira nos escreveu pedindo dicas de como fazer a bebê de dez meses comer, já que a menina estava causando preocupação por não aceitar as papinhas oferecidas pela mamãe de Luanda.
Pela nossa experiência, cada criança tem o seu próprio ritmo no que diz respeito à introdução alimentar. E cada país tem as suas dicas de como começar a dar papinhas*, sopinhas e, aos poucos, comida com mais pedacinhos.
Comparando as duas filhas, a Renate achou mais fácil dar comida para a mais velha, que agora tem três anos. Vários fatores tornaram essa realidade possível: aos cinco meses, O. já tinha 4 dentes (!) e, na maior parte dos dias, a mamãe estava em casa e conseguia administrar bem os horários das refeições, que eram bastante regulares.
Não é o caso com a filha mais nova, de agora onze meses. Ela ganhou dentes mais tarde e a Renate está na estrada desde os sete meses da pequena – um mês depois de começar, gradualmente, a introduzir as papinhas. Viajar é uma constante. Então, o mais prático, às vezes, é mesmo dar o peito em vez de parar para esquentar ou preparar refeições. Além disso, M. é dos bebês que gostam de um purê, sem pedaços, e prefere o gosto doce – como a maior parte dos bebês que começam a comer.
Como fazer, então?
1. Paciência: a chave para o sucesso
O jeito é relaxar e tentar reduzir as expectativas em relação aos pequenos. Na Alemanha, uma máxima que se ouve muito de pediatras, mas também em livros sobre nutrição, é que “as crianças comem/bebem o que precisam” (e se manifestam de acordo).
Portanto, o segredo é relaxar e não ter medo de dar um passo para trás, esperar e tentar novamente alguns dias depois. Isso vale tanto para a papinha do início, durante a transição do leite materno ou fórmula para a comida, quanto para a introdução de novos alimentos.

“Não se preocupe: enquanto o seu bebê estiver crescendo e demonstrar um comportamento satisfeito e feliz, você pode continuar fazendo como até então”, escreve a nutricionista Susanne Klug no livro Die neue Babyernährung – Breie und Fingerfood für die Kleinsten (A nova alimentaçãoo para bebês – papinhas e petiscos para os pequenos, numa tradução livre).
“Portanto, não se pressione tanto, relaxe e simplesmente tente novamente num outro momento”, diz a alemã.
Essa máxima vale tanto para o início da alimentação quanto para a tentativa de introduzir novos gostos e texturas para o bebê aprender a comer.
O pediatra catalão Carlos Gonzalez, autor do best seller Meu filho não come (o arquivo em pdf do original em espanhol pode ser lido aqui), também é defensor da linha de que o apetite da criança deve ser respeitado. Se ela não quer comer, deve ser, simplesmente, porque ela não está com fome.
2. Água mole em pedra dura…
A premissa de que se parte para introduzir alimentos sólidos na dieta das crianças é de que o bebê precisa aprender a comer. Em alguns momentos, os pequenos simplesmente não estão prontos para a próxima fase da nutrição.
“Também não é raridade o bebê comer a papinha de cenoura com batatas com paixão, mas recusar qualquer outro tipo de comida. Não se preocupe, é completamente normal. Crianças são – não só em relação à comida – extremamente conservadoras e gostam de se orientar com coisas conhecidas. (…) Seja paciente e sempre ofereça um outro tipo de papinha. Sempre uma colherzinha para experimentar. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Em algum momento, a papinha nova não será mais tão desconhecida para o bebê e a próxima colher seguirá naturalmente”, ensina Klug.
3. Experimentando coisas novas
Com dez meses, muitos manuais que lemos aqui no Mães no Mundo já recomendam que o bebê participe das refeições em família, estando prontos para começar a comer “comida de adulto”.
Para isso, nutricionistas como a alemã Susanne Klug dizem que o café da manhã, por exemplo, já pode ser composto por um Muesli, uma papinha de aveia ou de cereais com frutas, ou até mesmo por pão com requeijão (tipo Philadelphia), um pouquinho de geleia ou fatias alongadas de pepino (é fácil de segurar, tem bastante água e a maior parte das crianças gosta de chupar e fica entretida, além de se alimentar).
Apesar de estarem abertas a novas experiências, as crianças costumam mostrar que não gostam de certos alimentos – que cospem ou deixam cair no chão. Essa fase, portanto, ainda é bem dominada pela sujeira e requer limpeza constante na cozinha e na cadeirinha.
“Naturalmente, também existem crianças que ainda preferem beber leite em vez de comer papinhas aos dez ou onze meses, ou que são mais adeptas de purês bem finos em vez de comer pão ou torradas”, escreve Klug. “Dê tempo ao seu filho ou sua filha – o tempo necessário para que ele ou ela se abra a coisas novas. Certamente, você vai perceber quando for a hora de deixar o bebê experimentar da sua comida, já que seu sistema digestivo deve estar acostumado à maior parte dos alimentos”.
4. Horários e rotina
De acordo com a nossa experiência, não é preciso uma minúcia extrema com os horários das refeições, mas tentar dar a comida por volta do mesmo horário ajuda a criança a se acostumar a comer.
No caso da O. e da M., filhas da Renate, manter sempre a mesma hora de comer não é fácil, mas também não é impossível. Durante a viagem com o motor-home, (que, afinal, é a casa da pequena família), foi estabelecida uma rotina: em dias de deslocamento, dá-se o café da manhã ou a mamada às 8:00 da manhã. Por volta de 9:30, 10:00, um lanche (papinha de abacate com laranja, por exemplo – veja a receita aqui).
As crianças costumam dormir no carro depois disso, o que os pais aproveitam para percorrer vários quilômetros. Entre o meio-dia e as duas da tarde, dependendo de como foram os horários de refeições da manhã, é feita uma parada para o almoço. O lanche da tarde é servido entre 15:00 e 17:00, dependendo do dia. No final da tarde, se o lanche não foi servido tarde, ainda dá para servir uma janta (papinha de pêra com aveia e leite, por exemplo), mas há flexibilidade para dar apenas o leite materno antes de a bebê de agora onze meses dormir.
5. Baby Led Weaning (BLW)
Uma técnica de introdução à comida com a qual o bebê mesmo aprende a decidir o que comer, também conhecido como “desmame guiado pelo bebê”.
Defensores dessa alternativa dizem que é mais relaxante para os pais, pois não é preciso pensar numa comida extra para o bebê ou ficar fazendo purês, uma herança dos tempos em que os bebês já ganhavam comida antes dos seis meses de idade. O BLW seria uma forma natural, o próximo passo depois do leite materno, de o bebê aprender a comer. Mais informações você encontra aqui.
A técnica consiste em cozinhar pedaços de legumes como cenoura e batata, por exemplo, e dar, em forma de palito, como opção para o bebê escolher e experimentar.
Por mais que tenha achado interessante, a Renate não é adepta por algumas razões: a) ficou com muito medo que a bebê M. engasgasse, até porque demorou para ter dentes e assim não conseguia chupar os alimentos; b) num contexto de viagem, essa técnica faz uma sujeira considerável e limpar o motor-home depois de cada refeição da bebê não é viável.
A Renate acredita que a idade de aplicar esse método é com bebês mais velhos, a partir de dez ou onze meses, quando eles sentam bem, conseguem pegar a comida na mão e estão abertos a novas experiências sensoriais. Mas cada um decide o melhor caminho para a própria família. E cada criança é diferente.
Porém, nunca é demais alertar: fale sempre com seu pediatra ou nutricionista antes de adotar esse tipo de técnica. E sempre, sempre observe atentamente o seu bebê para que ele não corra riscos de engasgar.
6. Não transforme a hora da refeição em um drama
A Cíntia confessa que era uma criança chata para comer. Seus pais, desesperados, falavam de crianças que passavam fome para tentar convencê-la a comer, a mãe fazia pratos diferentes, cantava, fazia aviãozinho e… nada. Os minutos passavam, a comida ia esfriando e o prato continuava cheio. Moral da história: falar da fome no Sudão ou fazer chantagem emocional (“mamãe vai chorar se você não comer”) não adiantam. Em entrevista, o pediatra Carlos Gonzalez volta a insistir:
“Os pais ouviram que as crianças precisam comer tantos gramas de cada tipo de comida, quantidades exageradas. Não se deve obrigá-las a comer nunca na vida, jamais, por nenhum método, em nenhuma circunstância. Não se deve fazer promessas, dar prêmios, ameaçar castigar, fazer comparações nem chantagem emocional.”
7. Seja um exemplo para seus filhos
Se os filhos nunca veem os pais comendo frutas, legumes e coisas saudáveis, provavelmente, quando puderem decidir por si mesmos, também não terão bons hábitos alimentares. Se os pais tem sempre refrigerantes à mesa, como exigir que as crianças bebam só água? Claro, que tudo deve ser feito sem exageros, mas a alimentação dos filhos começa pelos pais.
O pediatra catalão manda um recado claro para os pais e as mães: “Se não come verdura é um sinal de que não é importante. E se não come e agora decidiu começar para dar bom exemplo, a criança vai fazer o mesmo.”
E quem ficou curiosa sobre o pediatra catalão, o blog dele pode ser acessado por aqui.
8. Polêmica? Distraindo seu bebê
Para a Renate, um método que deu certo com as duas meninas foi dar um brinquedo na mão delas na hora de comer, ou uma colherzinha de plástico no momento em que as duas começaram a se interessar em se alimentar sozinhas.
Ela não usou o método durante muito tempo para não acostumar as filhas a sempre terem uma distração na hora de comer.
Mas pode ser uma opção quando o bebê não está com vontade de sentar na cadeirinha de jeito nenhum. Dar uma opção de diversão para a criança (não vídeos, um brinquedo mesmo) tira o foco de algo que ela talvez veja como enfadonho.
É uma técnica que também faz sujeira e que não serve para o longo prazo, mas que ajudou a Renate na hora do desespero – e que foi uma forma de transformar a hora da refeição num acontecimento feliz. A boquinha das meninas passou a abrir naturalmente depois de algumas semanas.
*Veja aqui e aqui algumas receitas para introduzir comida para os pequenos. E, neste link, saiba como as escolas francesas fazem para as crianças comerem de tudo.
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