Por Cíntia Cardoso
Depois de ilustrar com talento os desafios da carga mental materna, a ilustradora e engenheira Emma (confira a página dela aqui) volta a tratar de um assunto essencial do cotidiano das mães: a dupla jornada. Depois de um dia passado no trabalho, muitas mães ainda têm que enfrentar uma nova lista de afazeres domésticos. Tudo isso sozinhas porque o pai ainda está preso no trabalho.
Na nova história em quadrinhos, batizada de L’Attente (A espera, em português), a autora mostra a rotina de uma mãe que, após um dia no escritório, fica em casa com filho à espera do companheiro com quem deveria dividir os cuidados com a criança.
“São 18 horas, você ainda tem uma coisa para fazer no trabalho, mas você tem que ir buscar seu filho na creche. Seu companheiro vai chegar em casa um pouco mais tarde. Foi ele que levou o fruto da sua união à creche, na casa da babá ou na escola pela manhã. À noite, é contigo. Chegando em casa, você vai cuidar da criança. E, depois, você fica esperando.” (trecho de L’Attente)

“A espera me parece ser a chave dessa história, o momento mais difícil do dia. (…) Quando a gente chega do trabalho, a vontade é de descansar, mas aí uma nova jornada começa. Fazer comida, dar banho, colocar as crianças para dormir e, enquanto isso, o pai continua no trabalho. Esses momentos deveriam ser incríveis, mas se tornam um calvário”, desabafou a engenheira, mãe de um menino de 6 anos em entrevista à revista Le Nouvel Observateur.
Trabalho do homem continua a ser mais valorizado
Segundo Emma, as mulheres continuam acumulando uma dupla – às vezes tripla – jornada de trabalho porque a atividade profissional masculina continua a ser mais valorizada. Por isso, quase sempre, são as mães que acabam saindo correndo desesperadas para buscar as crianças na creche ou na escola. Essa maratona para pegar os filhos na creche já foi, inclusive, tema do episódio da websérie da atriz e diretora eslovaca Tatiana, como mostramos aqui no blog.

Mundo do trabalho deve ser mais atento ao bem-estar das famílias
A intenção da autora não é a de tornar os homens vilões da vida familiar, mas, sim a de atacar um mundo do trabalho que não se adaptou ainda às necessidades dos novos modelos de família. Ela critica, por exemplo, a obrigação de permanecer no local de trabalho além do necessário apenas para não ser condenado pelos chefes ou pelos colegas.
Na tirinha abaixo, Emma descreve uma cena bastante comum no cotidiano das #mãestrabalhadoras: para conseguir ser o mais produtiva possível, as mães se contentam de comer apenas um sanduíche no almoço, por exemplo, e dispensam o café ou o bate-papo com os colegas. Todo ganho de tempo é precioso para conseguir sair um pouco mais cedo.
Esse esforço, porém, nem sempre é reconhecido. Resultado: as mães que se esforçaram tanto para conseguirem ser produtivas acabam sendo vistas como preguiçosas ou encostadas. Mesmo entre mulheres há uma grande falta de solidariedade.
Essa realidade não é, obviamente, exclusividade na França. Em outros países onde a rede de proteção ao trabalhador é mais precária, as mulheres com filhos acabam sendo mais prejudicadas. No Brasil, por exemplo, uma pesquisa revela que metade das mães trabalhadoras entre 25 e 35 anos perdeu o emprego dois anos depois da licença-maternidade.
OBS: Essa fase de espera também acontece com as mães que não trabalham fora ou que trabalham em home office e esperam ansiosamente pelo momento de dividir as tarefas domésticas ou o cuidado com os filhos.
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