Por Cíntia Cardoso e Renate Krieger
Somos grande incentivadoras de viagens com crianças e já demos algumas dicas de como se preparar para encarar uma viagem com os pequenos, mas sabemos bem que:
1) Nem sempre é fácil
2) Podem surgir obstáculos inesperados
3) Em alguns momentos, você pode até se arrepender de ter embarcado nessa aventura com crianças
Mas, depois de uma pausa para respirar, percebemos que viajar com filhos, sobrinhos, afilhados e afins continua sendo uma experiência fantástica e que não é preciso ser milionário ou contar com um séquito de babás para se divertir.
Nossas mães amigas e leitoras nos ajudaram a listar os maiores problemas que encontramos nessas voltas ao mundo com os pequenos. E, felizmente, algumas sugestões.
1-E se a criança odiar a comida do lugar?
Pesadelo número 1 no cotidiano das mães, a hora de alimentação pode ser um transtorno nas viagens. Tanto para os pequenos bons de garfo quanto aqueles mais exigentes, digamos, podem estranhar os novos hábitos alimentares de férias. Para os menores, já demos dicas aqui e aqui de como comprar e preparar papinhas e outras comidinhas. Para os maiores, a melhor opção é dar uma estudada antecipadamente nas opções de comida do lugar.
Uma mãe nos confessou que ela tenta estudar previamente quais os pratos e alimentos mais próximos dos gostos da criança. Chegando ao local, ela dá uma adaptada usando ingredientes locais ou dando uma “maquiada” nos alimentos. Quinoa virou “arroz redondo”, o cassoulet virou “feijoada da França” e por aí vai.
Outra mãe acredita que a fome é a melhor conselheira.
“Depois de um dia fazendo um monte de atividades, meus filhos comem até pedra.”
2-E se criança não quiser fazer nada do que você havia planejado ?
Nesse item, vimos que há duas linhas de atuação: a condução coercitiva ou a negociação.
A condução coercitiva, digamos assim, funciona melhor com os adolescentes ou para as crianças mais maduras, obviamente. Nesse caso, o melhor é apresentar o roteiro de viagem, explicar o porquê de tal museu ou tal atração ser interessante antes de iniciar o passeio. Se todos se envolvem no projeto antes da viagem, dá para aproveitar muito mais.
“Sempre tentar encaixar alguma programação infantil no meio dos passeios para os adultos. Se possível, encontrar museus e atrações que sejam interessantes para os dois.”
Essa foi a dica da mamãe Elisa, do Rio de Janeiro, que já abrilhantou o nosso blog com um texto de mãe convidada.
Para dicas de museus para visitar com crianças pela Europa, escrevemos aqui.
3-E se a criança ficar doente?
Sem querermos ser hipocondríacas, mas já sendo, sempre verificamos a lista de médicos ou hospitais disponíveis no destino escolhido antes de viajar. Também levamos um kit com os medicamentos mais comuns usados pelos pequenos (remédio para febre, dor de ouvido, dor de garganta, enjoo, pomada de arnica para pequenos machucados, antisséptico em spray etc. De preferência, na embalagem original, nunca se sabe se vamos encontrar uma fiscalização mais rigorosa na alfândega.)
Dica essencial da Renate:
Para quem vai viajar para o exterior, faça um seguro de saúde internacional.
Algumas mães nos disseram que, quando a doença se agravou, elas acabaram voltando para casa antes do tempo. Faz parte. Na dúvida, nenhum lugar é melhor que o lar.
-Também é legal verificar se o destino da viagem necessita de vacinação específica (febre amarela, hepatite A, raiva…).
4-Como evitar que a criança se perca?
A dica óbvia é manter a criança perto e sob a nossa vigilância.
Mas a mamãe Daniela, que já conhecemos aqui ,nos deu uma ótima dica. Não apenas para viajar mas para passeios em geral, ela usa uma pulseira de identificação com todos os dados do filho. As mamães mais jeitosas podem fazer a própria pulseirinha, para as outras, esse site deu dicas de onde se pode encomendar pela internet. Na Europa, tem essa opção aqui.
Mas também vale tirar cópia dos documentos e botar nos bolsos das roupas.
5-E a hora do sono?
Cama diferente, cheiros estranhos, outros barulhos… Os pequenos mais sensíveis podem ficar perturbados com as mudanças na hora de dormir. E aí, como lidar?
De Lisboa, a mamãe Luciana nos contou que sempre leva uma mantinha para a filha. Acalma durante a viagem e também chegando nos lugares novos.
A viagem de motor-home da Renate durou sete meses e houve períodos – especialmente quando a autocaravana transportava a família de um país para outro – em que o local de dormir mudava todo dia.
Nesse sentido, foi importante que o carro não mudasse. As crianças dormiam no colchão, com a Renate, atrás, e com o papai, numa tenda por cima do motor-home. Também foi importante, na medida do possível, manter os mesmos horários (o que muitas vezes era impossível) e principalmente os mesmos rituais: escovar os dentes, colocar o pijaminha, ler uma história, aconchego, amamentar.
6-E se o lugar for sujinho?
Há duas opções: ou ser a maníaca da limpeza ou desencanar (dar de ombros) de vez.
Apesar de não ser nada paranoica com limpeza (ou seja, não sair por aí desinfetando tudo de maneira desenfreada), a Renate não consegue relaxar sabendo que o chão do restaurante está engordurado, que a mesa foi limpa com um pano sujo ou que o banheiro de um camping não foi limpo, por exemplo.
Assim, viajar com crianças pequenas pode ser uma tortura, especialmente na fase em que os bebês levam tudo à boca. A solução que encontramos foi observar. Se o local estivesse sujo demais, nem entrávamos, ou dávamos um jeito de não usar o banheiro sujo. Se fosse inevitável, tentávamos não encostar em (quase) nada e limpar a mesa, por exemplo, com paninhos úmidos ou daqueles que têm desinfetante (importante para levar a filha mais velha ao banheiro, por exemplo).
Por outro lado, exatamente quando as crianças são menores, também há a vantagem de poder carregá-las e trocá-las em qualquer lugar. A filha mais nova da Renate iniciou a viagem com sete meses, então era relativamente fácil não deixá-la engatinhar em qualquer lugar, mantendo-a no colo.
E, para aventuras como a praia, sempre é possível adotar a postura número 2: relaxar. Basta dar uma inspecionada antes, se informar um pouco quem circula pelo acampamento na praia (como aconteceu em alguns casos no Marrocos, onde havia áreas em algumas praias onde se via lixo plástico), como as pessoas fazem as necessidades quando não há banheiros perto e assim por diante. Uma vez descartada qualquer possibilidade problemática, o jeito é deixar a criançada rolar na areia!

7-Como fica o desfralde na viagem?
Um dos objetivos de Ano Novo da Renate era desfraldar a filha mais velha – o cenário ideal era que ela largasse as fraldas antes da volta da família para a Alemanha, que traria muitas mudanças de uma vez, incluindo a entrada na creche e uma mudança de casa.
Acabou dando certo, embora a nossa postura fosse sempre a de esperar o melhor, mas nos preparar para não ficarmos decepcionados caso não acontecesse.
Por isso, sempre tínhamos uma toalha limpa ou proteção de assento à mão. Uma dica boa quando se passa o dia inteiro fora de casa passeando com as crianças é levar mudas de roupa extra e uma daquelas coberturas impermeáveis de trocar bebês para a criança sentar.
Meses antes da viagem, O. já dava sinais de que entendia sobre a ida sozinha ao banheiro – só não tinha, ainda, um controle sobre a bexiga. Por isso, durante a jornada, tínhamos receio de deixá-la sem fralda mesmo durante o dia, porque era muito difícil lidar com acidentes dentro do motor-home (tem vários assentos com estofado, ruins de limpar).
Mesmo assim, levamos um penico e, sempre que ficávamos por mais tempo em algum lugar, a levávamos ao banheiro regularmente, perguntando se ela queria ir, e tirando a fralda (e voltando a colocá-la) em caso afirmativo.
Gradualmente, ela foi pedindo para ir sozinha ao banheiro, e também falava e dava sinais de que não estava mais com vontade de usar fraldas. Foi quando começamos a sempre fazê-la ir ao banheiro (antes de ligar o carro, por exemplo, ou assim que chegávamos em algum lugar). Explicávamos que ela não poderia fazer xixi no assento do carro e, de início, colocar uma toalha ou proteção no assento, para evitar acidentes.
Também foi quando conversamos com ela, dizendo que, se ela sempre conseguisse ir ao banheiro sozinha e não usasse mais fraldas, ganharia um presente (não é o método do qual mais nos orgulhamos, mas deu certo para ela naquele momento). No dia seguinte ela não colocou mais fraldas.
Para nós, a lição principal foi saber que esse foi um processo gradual, e que foi resultado de um longo trabalho (o presente prometido foi apenas um incentivo a mais).
A máxima que deu certo para nós foi:
Não forçar, mas não deixar de insistir pedagógica e gentilmente com a criança para que haja sempre a consciência de que ela pode dar esse passo se e quando ela quiser.
E sempre estar preparada – parece muito longa, mas é uma fase que passa.
8- Como deixar a mochila dos passeios enxuta
Menos é mais, mas essa máxima nem sempre é fácil de concretizar, especialmente quando se sai com crianças.
Na Alemanha, existe uma sabedoria popular: se você está com frio é porque está com a roupa errada.
Eu, Renate, resolvi aliar esses dois “ditados” – como na Alemanha existe roupa para todo tipo de tempo, tento priorizar sempre a praticidade.
Eis a importância de estar preparada: o melhor é sempre saber com antecedência o tempo que pode fazer (apesar de eu quase nunca olhar a previsão) e como vai ser o passeio do dia.
Levo roupas sobressalentes para “bater”, fraldas, lencinhos úmidos, toucas (ou chapéus de sol) e uma pequena nécessaire com itens como protetor solar, por exemplo.
Quando há previsão de chuva, meu item preferido são casacos para esse tempo e a chamada “Matschhose” (calça de lama) aqui da Alemanha. É uma calça para brincar na lama, mesmo, e que basta colocar por cima da outra roupa. A calça é impermeável e pode sujar, molhar, que a criança “debaixo” fica limpa. Salvou a nossa pele quando acampamos uma vez, com tendas, e choveu o tempo todo. As crianças aproveitaram para brincar do lado de fora mesmo com tudo molhado.

Se você tiver alguma sugestão, mande um e-mail para a gente no maesnomundo@gmail.com.
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